Desde que comecei a treinar cães, sempre procurei ter uma relação muito próxima com os veterinários dos meus clientes. É extremamente importante que exista esta simbiose, entre o veterinário e o treinador.
Mediante o caso, uma reabilitação comportamental, pode tornar-se um processo exigente para todos os envolvidos, no entanto, se todos os intervenientes, cooperarem e estiverem de acordo com o plano de treino proposto, quem fica a ganhar é o cão.
Pela minha experiência, a grande maioria dos clientes que me contactam, por questões de agressividade, são na verdade, clientes que já tentaram de tudo para resolver o caso por eles próprios, recorrendo a conselhos e/ou técnicas que viram na televisão. Ou seja, o treinador passa a ser a única opção que resta para retirar o desespero e devolver a esperança ao tutor.
Eu próprio já passei por essa fase, quando tive o meu primeiro cão. O Big começou a apresentar alguns problemas de agressividade e eu tentei resolvê-los com base em dicas e sugestões, que via num programa televisivo. No meu caso, não adiantou de nada, pois em vez de melhorar, o problema foi-se tornando cada vez pior!
Todos os tutores devem estar cientes de que, comportamentos agressivos, são na verdade, comportamentos que o cão apresenta para transmitir uma mensagem a um destinatário (pessoa, outro cão ou até mesmo um objeto inanimado), ou seja, é uma forma de comunicação. Sempre que o seu cão lhe ladra, rosna ou mostra os dentes, ele quer transmitir-lhe a mensagem de que não está bem naquele contexto ou que se sente desconfortável com alguma coisa.
Nos também comunicamos, mas como seres humanos, enviamos mensagens de uma forma diferente, usando palavras. Quando uma pessoa está sob stress e desconforto, devido a uma dor de dentes, pega no telefone e marca uma consulta com o dentista. Os cães também tem dores de dentes, de coluna, articulares, musculares, de barriga, e todas as diversas dores que o ser humano pode ter, no entanto, não tem a capacidade de contactar o respetivo especialista para lhe tirar essa dor e desconforto.
É aqui que o veterinário desempenha um papel insubstituível, num caso de agressividade. Se o seu cão, subitamente, começar a apresentar alguns comportamentos problemáticos, não perca tempo e recorra logo ao seu médico veterinário para expor o caso. O seu cão pode estar a querer comunicar que está com dores e que não consegue lidar com esse desconforto. O seu médico veterinário irá fazer um check-up geral e avaliar se existe alguma patologia na origem desses comportamentos problemáticos.
Quando faço avaliações comportamentais, tenho SEMPRE esse cuidado, de numa primeira instância, descartar causas médicas na origem do problema. Sou apenas um treinador que trabalha com técnicas de treino, e não faço milagres. Se um cão está a apresentar comportamentos agressivos devido a um problema de saúde, posso garantir que as mil e uma ferramentas de treino que o treinador possuí, não vão RESOLVER O PROBLEMA. Nestes casos, indo à raiz do problema, se o veterinário tratar da dor, os comportamentos problemáticos que o seu cão começou a apresentar, desaparecem. Por isso é que o médico veterinário, desempenha um papel essencial, na minha abordagem de treino, e só depois de ter a avaliação do mesmo e de algum problema de saúde estar fora de hipóteses, é que posso assumir o caso.
Mas mesmo, nos casos, em que não existe um problema de saúde associado à agressividade, eu pretendo que o veterinário acompanhe todo o meu processo de trabalho, isto porque, existem situações mais severas, em que só as técnicas de treino, não são suficientes para modificar o comportamento do cão. Em casos extremos, em adição ao treino, é necessário recorrer à medicina comportamental e/ou à farmacologia para ajudar o cão a obter um equilíbrio emocional.
Em Portugal, ainda não temos muitos veterinários comportamentalistas (veterinários com especialização em comportamento), pois trata-se de uma área ainda em expansão no nosso País. Mas os veterinários tem cada vez mais interesse na área do comportamento, e dedicam-se a explorar e a aprender mais sobre esta vertente, como tal, muitos já possuem conhecimentos mínimos e estão familiarizados com os fármacos que possam ser administrados em casos de problemas comportamentais. Caso o veterinário, não se sinta confortável com a medicina comportamental, poderá sempre recomendar e passar o caso, para um colega com mais experiência na área.
Esta é a razão que me leva a “perder” (ou melhor ganhar) horas e horas, a falar com alguns médicos veterinários, pois aprendo imenso com eles, e sei que também consigo retribuir com os meus conhecimentos. Felizmente, tenho essa relação de proximidade com os veterinários dos meus clientes, e tenho a certeza que esta partilha de conhecimentos e experiências, façam com que estes acompanhem o meu trabalho e me recomendem aos seus clientes.
Todos os profissionais, que lidam com cães no dia-a-dia, deveriam trabalhar de perto com médicos veterinários, pois tratam-se de especialistas que não podem ser descartados de possíveis problemas comportamentais nos cães. Esta união, é extremamente importante, em prol do bem estar animal e dos próprios clientes que nos procuram!
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