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A origem do Cão

Este é um daqueles temas que continua a fazer correr muita tinta no ramo da Biologia e Etologia. Já é de conhecimento de todos, que o “Lobo” (provavelmente, um lobo muito diferente daquele que nós conhecemos hoje em dia) é de facto o ancestral do cão, mas o que é aconteceu para passarmos de uma espécie selvagem para uma espécie doméstica? Aqui entram 2 teorias: por um lado temos a “seleção artificial” que explica que os seres humanos do Mesolítico apoderaram-se de lobos bebés, criaram-nos e tornaram-nos animais domésticos.



Por outro lado temos a “seleção natural” que explica que os lobos se auto-domesticaram por necessidades de sobrevivência.Os estudos atuais, apontam que esta evolução (lobo para cão) iniciou-se entre os 10 mil a 14 mil anos atrás. Época esta, em que o Mundo foi confrontado com alterações climáticas (final da Era Glaciar) que obrigaram o ser humano a deixar o seu lado Nómada e a tornar-se cada vez mais sedentário. Este sedentarismo fez com que o ser humano sentisse necessidade de criar pequenos nichos onde pudessem permanecer seguros e, em simultâneo começou a aparecer o conceito de comunidade. Viver em grupo num determinado espaço, faz com que se crie lixo, inclusive restos de comida, carcaças e ossos.


Voltando às teorias, se tivermos em consideração a seleção artificial, o ser humano da época teria retirado uma ninhada de lobos de um covil, criando-os ao ponto de originarem gerações de “lobos” domesticados. A verdade é que a genética não é tão linear quanto isto. Esses lobos até poderiam ser criados ao ponto de se sentirem adaptados àquele meio humano mas assim que se reproduzissem, iriamos ter novamente crias selvagens. Lobos são animais selvagens e não é por viverem em cativeiro ou por crescerem num âmbito humano que vão deixar de o ser. Para além disso seriam necessários um grande numero destes lobos criados e adaptados ao seio humano para que ocorresse uma transformação genética exponencial. Temos que ter em consideração que estamos a falar de uma época em que apenas existiam animais selvagens e nenhum animal domesticado, logo esta teoria tem vindo a perder cada vez mais apoiantes ao ponto de estar quase em desuso!


Sendo assim, a ciência apoia-se essencialmente na teoria da seleção natural para a domesticação do cão. Charles Darwin fundamentou que o ambiente está em constantes mudanças e que os animais têm de se adaptar a essas mudanças para sobreviverem. Foi isto que aconteceu ao ser humano da época, o ambiente mudou e para sobreviver, este teve que deixar o seu lado Nómada e passar a sedentário. O lobo da época também passou por este processo. Sobreviver num ambiente selvagem é extremamente complicado, visto que exige um grande esforço físico para caçar e conseguir alimento. Com os pequenos povoamentos que os humanos criaram, o “lixo” acima mencionado ficou à mercê do lobo sem que este necessitasse de grande desgaste energético para se alimentar. A verdade é que o lobo é um animal muito inseguro com a presença humana e assim que o avista tem tendência a fugir para muito longe. Tendo isto em consideração, como é que ocorreu a auto-domesticação do lobo? A ciência usa o termo “flight distance” (distância de segurança) para medir a relação entre a timidez de um animal e o quão longe este foge perante um determinado estímulo. No caso dos lobos, quanto menor fosse a “flight distance” de cada membro maior seriam as hipóteses de permanecerem relativamente perto dos humanos e respetiva fonte de recursos (lixeira com alimentação) para se alimentarem. Estes lobos, com estas características, tornaram-se cada vez menos tímidos e foram-se adaptando a viver nas proximidades do ser humano. Fruto desta adaptação, estes lobos começaram a mudar morfologicamente e a comportar-se de modo diferente, ou seja, começou a surgir uma espécie que já não era lobo mas sim uma espécie mais parecida com o cão. A seleção natural é o grande responsável por esta adaptação e fundamenta-se que existiu um benefício mútuo entre o ser humano e esta espécie nova (que já não era lobo mas também, ainda não era cão). Por um lado esta espécie obtinha alimento sem necessidade de desgaste físico e por outro lado o ser humano aproveitou-se das aptidões desta espécie para guarda das “propriedades”, para auxílio na caça e até mesmo para “companhia”. Foi desta forma que se iniciou a transformação de uma espécie para outra, isto é, do lobo para cão.


Segundo o Dr. James Serpell, no seu livro “Domestic Dog – It’s evolution, Behaviour and interaction with people”, a domesticação é resultado de 2 processos, um biológico e outro cultural. O processo biológico está relacionado com a evolução natural, no qual os animais progenitores se reproduzem fora de um âmbito selvagem, e formam um pequeno grupo social que ao longo de muitos anos e gerações vai evoluindo geneticamente, formando uma espécie diferente.


Quanto ao processo cultural, este começou assim que o animal se inseriu na estrutura social humana, deixando o seu lado selvagem passando a ser cada vez mais um ser domesticado.


Concluindo, se por um lado a seleção natural é, em primeira instância, responsável pela domesticação do cão, a seleção artificial (intervenção humana) foi responsável pelo aparecimento das variadas raças de cães que temos na atualidade!

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