“Respeita-me se quiseres ser respeitado”, esta é provavelmente a frase que todos os cães diriam se estivessem num contexto em que se sentissem com medo e inseguros.
Lidando eu diariamente com cães, vejo constantemente pessoas que não sabem interagir e respeitar o espaço que determinados cães necessitam para que se sintam seguros e confiantes. Esta publicação serve como uma chamada de atenção, para alertar as pessoas, que todos os cães são diferentes e nem todos os cães gostam de ser acariciados, nem todos os cães gostam de interagir com pessoas, nem todos os cães são iguais aos cães que têm em casa!
A palavra “sociável”, no meu ponto de vista, está muito mal empregue na análise dos cães. Vamos analisar isto de uma perspetiva humana. O que é uma pessoa sociável? Será que é uma pessoa que assim que entra num restaurante vai cumprimentar individualmente as 50 pessoas que estão a jantar? Será que é alguém que abraça todas as pessoas que encontra na avenida, mesmo sem as conhecer? Não! Uma pessoa sociável, é alguém que não procura conflitos, é alguém que procura sempre respeitar o próximo, alguém que sabe viver em comunidade e que procura o bem estar de todos os envolvidos.
Agora vamos aplicar o termo “sociável” nos cães! A sociedade em geral, pensa que um cão “sociável” é um cão que assim que vai à rua, gosta de receber festas de toda gente, é um cão que não pode demonstrar comportamentos de desconforto em espaços públicos, é um cão que tem por obrigação aceitar puxões de orelhas das crianças, no fundo é o oposto de um cão com comportamentos agressivos. Bem, isto está longe de corresponder à verdade!
Quando trabalho cães com comportamentos agressivos, a reabilitação consiste em introduzir esses cães na sociedade, de forma a que o tutor os possa passear em espaços públicos, sem que os cães tenham necessidade de responder agressivamente aos estímulos envolvidos. O objetivo passa por tornar um cão que era medroso e inseguro, num cão confiante e seguro. Em nenhuma circunstância, um treinador, deve criar falsas expectativas num cliente e garantir que vai reabilitar um cão com comportamentos agressivos num cão “sociável”, como a sociedade em geral o idealiza. Isto é falta de profissionalismo, é enganar o cliente e vender um produto “raro”! Tornar um cão com comportamentos agressivos, num cão que aceita puxões de orelhas e festas de toda gente, é um objetivo muito irrealista. É possível? Sim! Existem instituições de renome internacional, com largos anos de experiência, que de facto acomodam estes cães durante ANOS, treinam-nos DIARIAMENTE e conseguem fazer de ALGUNS (nem todos) cães terapeutas. Mas estamos a falar de Instituições que passam 24h por dia, 365 dias por ano, focados num único objetivo, não estamos a falar de um treinador que passa 2 ou 3 horas por semana com um cão, e um cliente que tem uma vida profissional que o impossibilita de estar 24h por dia com o cão.
Fico perplexo, quando estou a reabilitar um cão com comportamentos agressivos e de repente surge uma pessoa, que vem, sem hesitação, em direção ao cão para lhe fazer uma festa! Quando falo para crianças sobre cães, tento sensibilizá-las para que, antes de fazerem festas ao cão, questionem o tutor se é possível. A verdade é que, não são só as crianças que devem estar sensibilizadas para estas situações mas todas as pessoas deveriam ter esta atitude, em prol da própria segurança, do bem estar do cão, da dedicação que o treinador está a ter na reabilitação e em prol do cliente que está a pagar um serviço, que você pode arruinar com um simples gesto!
“Respeita-me se quiseres ser respeitado”, foi desta forma que iniciei a publicação e é desta forma que pretendo concluí-la. Os cães não falam mas exprimem-se com uma linguagem própria! Exigimos que eles compreendam a nossa linguagem mas não nos dedicamos para compreender a deles! Basicamente queremos que eles nos respeitem mas fazemos muito pouco para os respeitar a eles!
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